sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sobe o número de armas de uso restrito apreendidas

ISMAIL JUNIOR
Repórter Policial do Universo Policia

A apreensão de armas de calibre de uso restrito dos órgãos de segurança pública e das Forças Armadas subiu 18,2% na Bahia, saltando de 132 para 156 nos primeiros oito meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados do Centro de Documentação e Estatística da Polícia (Cedep) mostram que são encontrados nas mãos de bandidos armamentos com alto poder de destruição, como fuzis, espingardas, metralhadoras antiaéreas e submetralhadoras, como a israelense Uzi apreendida em Salvador na semana passada.


Ismail Junior/Universo Policia
Armas apreendidas durante operação policial em maio deste ano
As Armas apreendidas.


A apreensão de armas de uso restrito demonstra que os criminosos chegam a ter maior poder de fogo do que a própria polícia. Já foram encontradas com bandidos metralhadoras capazes de derrubar aviões. Já os policiais baianos não utilizam esse tipo de armamento antiaéreo, usado exclusivamente pelas Forças Armadas em períodos de guerra, explicou o agente civil Álvaro Moraes de Castro, chefe do setor de armamento do Centro de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil e campeão brasileiro de tiro.

Apesar de os bandidos terem armas como metralhadora antiaérea, a maior parte do armamento de uso restrito apreendido este ano foi de pistolas de calibre exclusivo, segundo os dados do Cedep. A polícia também apreendeu, em menor quantidade, fuzis e submetralhadoras em poder de quadrilhas de traficantes de drogas e assaltantes.

As armas de uso restrito chegam às mãos dos bandidos baianos de duas formas: contrabandeadas de outros países ou extraviadas da polícia e das Forças Armadas. A explicação é do professor e coronel da reserva do Exército Carlos Costa Gomes, especialista em segurança pública. Gomes acrescentou que a maioria dos calibres proibidos para civis no Brasil pode ser comprada livremente em outros países da América do Sul. “Qualquer pessoa compra armas de uso estrito no Paraguai, no Uruguai, na Argentina e depois entra no país com facilidade”, criticou.

O superintendente de inteligência da Secretaria da Segurança Pública (SSP), o delegado Maurício Telles, também acredita que as armas de uso restrito chegam à Bahia depois de entrar no País como contrabando, principalmente através da fronteira do Paraguai. Telles não acredita que existam quadrilhas especializadas em tráfico de armas atuando no Estado. Pistolas, fuzis e metralhadoras entram na Bahia de forma pulverizada, em pequenas quantidades. “Não existe um fornecedor de armamentos para criminosos no Estado, não tem carregamentos, as armas são contrabandeadas uma de cada vez”, disse o delegado.

Segundo o superintendente, as armas consideradas de grosso calibre, como fuzis e submetralhadoras, são mais comumente encontradas em poder de assaltantes e bancos. Ele acrescentou que muitas quadrilhas de roubo a banco são compostas por criminosos de outros estados, como Pernambuco e Goiás, onde se tem mais acesso a esse tipo de armamentos por causa de posição geográfica.

As rodovias federais BR-116, BR -110 e BR-242 são as principais rotas para entrada das armas no Estado, segundo o chefe de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), inspetor Virgílio Tourinho. Ele acrescentou que o armamento costuma passar pelo mesmo roteiro usado pelo tráfico de drogas: sai da Colômbia e da Bolívia, passa pelo do centro-oeste do País, entra na Bahia pela região de Barreiras e BR-242. Os outros dois caminhos partem do Sudeste e chegam ao estado através da BR- 110 e BR-116.

Tourinho disse ter dificuldade para fiscalizar a chegada do armamento no Estado por causa do tamanho da malha viária, pela quantidade de carros e pelo pequeno efetivo da PRF. O controle dos inspetores também é dificultado porque traficantes costumam levar poucas armas por vez.

Os fuzis mais comuns apreendidos pela polícia, em poder de quadrilhas de assaltantes e traficantes são o russo AK-47, calibre 762; o minirugguer 556 e o AR-15. Já a polícia baiana usa os fuzis Fau calibres 762 e 556. No quesito submetralhadora, os policiais contam com armamento melhor do que os que costumam ser apreendidos com criminosos, explicou o agente Álvaro Moraes. Enquanto os agentes usam metralhadora MT40 da marca Taurus, criminosos utilizam metralhadoras mais antigas calibre 9mm, explicou o especialista em tiros.

Pesquisa

A Bahia aparece no oitavo lugar no ranking dos Estados no Controle de Armas, elaborado a partir de pesquisa desenvolvida em conjunto entre a Subcomissão de Armas e Munições do Congresso Nacional e a ONG Viva Rio. Os resultados do estudo foram divulgados nesta quinta, em Brasília (DF), pelo deputado federal Raul Jungmann (PPS), presidente da subcomissão, e pelo sociólogo Antônio Rangel, coordenador da Viva Rio.

“Vamos mostrar a necessidade de que haja políticas públicas de controle de armas, que são o grande vetor da violência. Os indicadores mostram que o Brasil está entre os primeiros do mundo no número de mortes por armas de fogo”, advertiu o deputado. “Nesse primeiro estudo, fizemos um comparativo entre estados. Em fevereiro de 2010, divulgaremos outro, mostrando índices ideais, em relação a outros países”, revelou Antônio Rangel.

O ranking foi estabelecido a partir do desempenho dos estados, obedecendo a critérios como a quantidade de armas apreendidas nos últimos dez anos, recolhidas nas campanhas de desarmamento voluntário, e a qualidade das informações sobre as armas apreendidas, suas características, locais em que foram apreendidas e a forma como foram encaminhadas as informações sobre as armas.

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