quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mizael Bispo, seria capaz de matar?

JUSSARA SOARES
colaboração para o Universo Policia



Não foi amor demais. O assassinato da advogada Mércia Nakashima, segundo a Polícia Civil de São Paulo, ocorreu em defesa da honra. Para a investigação, Mizael Bispo de Souza matou a ex-namorada porque não admitia a traição, nem perdê-la para outro homem. Mizael nega ser o assassino de Mércia e continua em liberdade, já que a Justiça não acatou nenhum pedido para sua prisão preventiva

Após 61 dias de investigação, o inquérito sobre a morte de Mércia foi entregue ontem ao Ministério Público de São Paulo. No relatório final, o delegado Antonio de Olim, do Departamento de Homícidio e Proteção à Pessoa (DHPP), pediu a prisão preventiva de Mizael e também do vigia Evandro Bezerra da Silva, preso temporariamente. O vigia é a acusado de participação no crime.

Para o delegado, Mizael pode voltar a matar, "impondo a sua crueldade" toda vez que tiver um relacionamento de ordem sentimental. No relatório final do inquérito, ele cita que o comportamento violento do acusado não se deu apenas com Mércia, mas também, "em menor escala", com a ex-esposa.

Mas qual é a diferença entre alguém que comete um crime passional e outro que o faz em defesa da própria honra. Especialistas ouvidos pelo DIÁRIO explicam que o envolvimento amoroso entre um assassino e sua vítima não basta para caracterizar um crime passional.

"O crime passional tem características peculiares: existe amor, afeto e ciúmes. E depois existe um arrependimento imenso, muitas vezes seguido de suicídio", explica o psiquiatra forense Guido Palomba. Nesses casos, é comum o assassino confessar o crime.

Este tipo de homicídio não é premeditado e costuma ser praticado no impulso. "Não são crimes elaborados, são caracterizados pelo descontrole", observa o psiquiatra forense Eduardo Henrique Teixeira, pesquisador da Unicamp e professor de Psiquiatria da PUC-Campinas. "É um curto-circuito, onde o amor se transforma em ódio", define Palomba.

Já casos de crimes em defesa da honra são motivados porque a pessoa se sente passada para trás e atingida moralmente. Neste caso, segundo os especialistas, o sentimento motivador não é o amor, mas a perda do objeto amado.

"A pessoa acha que é o dono da vítima, entende o que está fazendo e o faz porque quer. É um criminoso como outro qualquer. No crime passional, é um impulso e há uma deformidade no entender", define o psiquiatra Guido Palomba.

As provas da polícia contra Mizael

O rastreamento do celular mostra que Mizael seguiu para Nazaré Paulista no dia do crime. Entre 1º de maio e 7 de julho, foram 40 ligações para Mércia. No dia do desaparecimento, mais três, além de ligações diárias para o seu suposto comparsa, o vigia Evandro Bezerra Silva.

A defesa de Mizael Bispo

Parcialidade da investigação
O advogado que defende o ex-PM afirma que o delegado Antonio de Olim não investigou outras hipóteses que não ligavam Mizael ao crime.

Álibis que o inocentariam
Mizael diz que, no dia do desaparecimento de Mércia, estava com uma garota de programa e que o rastreador de seu carro não pode ser usado porque quebrou.

Outros queriam matá-la
Segundo o acusado, Mércia foi vista em um ponto de tráfico em Guarulhos, foi ameaçada por ex-cliente de seu escritório e teve o carro depredado antes de sumir.

Amor eterno e incondicional
Mizael afirma que amava Mércia e que, mesmo com o fim do namoro, nunca a agrediria ou trataria mal. "Ela era uma rainha, uma pessoa doce, meiga".

Disposição de colaborar
Apesar de ter fugido após ter a prisão decretada, diz que ajuda a investigação, apresentando documentos e suspeitas, e sempre se apresenta à polícia.

Irmã afirma que Mércia caiu no "conto do vigário"

Como a família reagiu à conclusão do inquérito?
Estamos esperando que a justiça seja feita e a lei aplicada. Embora ela seja muito branda pelo o que ele (Mizael) fez. Espero que quem for julgar o caso se coloque no nosso lugar. Ninguém está livre de ter um sujeito assim na família.

Como era o comportamento de Mizael com vocês?
Fiz faculdade com Mizael e nunca gostei dele. Nunca tinha falado comigo e fez uma brincadeira, simulando um assalto. Nunca teve boa índole. Ele conheceu minha irmã numa infeliz coincidência.

Como foi esse encontro?
Ele foi ao meu escritório por causa de uma ação trabalhista e conheceu minha irmã lá. Não fui eu que apresentei. Se pudesse a teria trancado no banheiro. Ele passou um mês e meio ligando para ela, e minha irmã acabou caindo no conto do vigário. Achou que de repente valia a pena. Ele sempre foi grosseiro e estúpido.

E como foi o namoro?
Foram quatro anos. No último ano, viviam brigados. Minha irmã só se encontrava com ele porque se sentia ameaçada. Ele planejou tudo nos pequenos detalhes e por isso tem a certeza da impunidade.

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