terça-feira, 29 de junho de 2010

Para Ministério Público, Advogada Mércia sabia de segredo de Mizael

ISABELLA FAGUNDES
Repórter Investigativa do Universo Policia

O fim do relacionamento com o policial militar reformado Mizael Bispo de Souza pode não ser a única causa da morte de Mércia Nakashima. Na avaliação do Ministério Público, ela poderia saber algum segredo a respeito das atividades do ex-namorado. Essa linha de investigação ainda está no campo especulativo, ressaltou o promotor Rodrigo Merli Antunes. Está sendo apurado se Souza mantinha alguma relação com a prestação de segurança particular de comércios no bairro Bonsucesso, em Guarulhos, na Grande São Paulo.



O advogado do PM, Samir Haddad Júnior, refutou essa hipótese. E disse que seu cliente trabalha somente como advogado atualmente. Hoje, os indícios que ligam Mizael Bispo à morte da advogada são a relação estreita dele com o vigia e os registros de ligações efetuados por ele em 23 de maio. Segundo o promotor, as respostas dadas pelo PM sobre sua rotina naquele dia divergem dos dados telefônicos e de informações prestadas por parentes dele.



Foragido

O vigia Evandro Bezerra da Silva conversou por telefone com Mizael na tarde de 23 de maio, dia do desaparecimento de Mércia Mikie Nakashima, de 28 anos. Além disso, o vigia, que está foragido, esteve na região do crime naquele domingo, conforme indica o celular dele. Para o Ministério Público (MP), Silva pode ter assassinado a advogada a mando do PM, ex-namorada da vítima.

Silva, de 38 anos, abandonou o trabalho num posto de gasolina em Guarulhos, onde Souza costumava abastecer, após a morte de Mércia. Desde então, vem sendo procurado pela polícia. Na sexta-feira passada, a Justiça decretou a prisão temporária dele e revogou o segredo do inquérito. "Ele está prejudicando as investigações por não comparecer. O depoimento dele é imprescindível", afirmou o promotor Rodrigo Merli Antunes. "A suspeita inicial nossa é de que ele seja o executor".

O vigia conhecia a região da represa Atibainha, em Nazaré Paulista, interior do Estado de São Paulo. Familiares dele moram nas imediações do reservatório, onde o Honda Fit da advogada foi localizado em 10 de junho e o corpo dela, no dia seguinte. Suspeita-se que Silva esteja na casa de parentes no Nordeste. O advogado de Souza, Samir Haddad Júnior, confirmou que seu cliente conversou com Silva nos dias 22 e 23 de maio. Segundo o defensor, isso era normal, uma vez que eram amigos. Eles se conheceram, acrescentou Haddad, na época em que o PM fazia "bico" como segurança de comércios em Guarulhos, há cerca de quatro anos.

Depois de diversos contatos até o dia do assassinato da advogada, Silva e Souza não se falaram mais por telefone. Por outro lado, o vigia passou a manter "bastante contato" com um irmão do PM cujo nome é mantido em sigilo. "Não sabemos se essa pessoa da família estaria auxiliando numa eventual fuga ou se já sabia de tudo", explicou Antunes. Assim, ao todo, três pessoas poderiam ter participado do homicídio.

Descartou-se a hipótese de que Mércia teria sido ameaçada por ex-clientes, conforme citou a defesa do PM. Outra contradição na versão de Souza é sobre a mulher com quem garante ter permanecido das 18h37 às 22h12 de 23 de maio, em frente ao Hospital Geral de Guarulhos. Primeiro, disse ser uma prostituta. Depois, não tinha mais certeza. A polícia e o MP já descartaram a hipótese de Mércia ter sido vítima de latrocínio (roubo seguido de morte) pois nenhum pertence dela foi roubado. Dentro do Fit da advogada, foram recuperados a bolsa e os dois celulares dela, ambos sem chip. O único objeto estranho no veículo era um boné da marca Adidas, possivelmente de Silva, de acordo com relatos de testemunhas.

O MP e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa esperam o resultado das perícias no carro de Mércia e num sapato sujo de terra e numa camisa de Souza. O laudo com a causa da morte da advogada também não está pronto. A princípio, cogitou-se afogamento. Por enquanto, segundo o promotor, não houve a necessidade de solicitar à Justiça a prisão de Souza. "Não há fundamento jurídico para a prisão dele", explicou Antunes. O PM depôs nas três vezes em que foi intimado, não prejudicou as investigações e não deixou a cidade de Guarulhos. A polícia pretende interrogá-lo novamente, mas a data ainda não foi marcada.

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