quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A Milicia de olho nas Mulheres

ISABELA FAGUNDES
Repórter Investigativa do Universo Policia

Três mulheres que estão do lado oposto aos chefões da milícia de Rio das Pedras escolheram fugir do estado por medo. Principal testemunha das investigações que desencadearam a operação de terça-feira na comunidade, a viúva do inspetor Félix Tostes, Maria do Socorro Barbosa, abandonou seu apartamento no Recreio dos Bandeirantes. Adriana Fernandes da Cruz, que, em junho, perdeu o marido Josinaldo Francisco da Cruz, o Nadinho de Rio das Pedras, arquirrival do grupo paramilitar, foi morar em Campina Grande, na Paraíba. Já uma doméstica, que prestou depoimento ontem na polícia denunciando milicianos foi levada para fora do Rio graças ao Programa de Proteção à Testemunha.

No relato, a mulher afirmou que o presidente da Associação de Moradores da favela, Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba, ameaçou seu filho de 17 anos por pintar o cabelo de louro. Ela ainda contou que o miliciano Fabiano Cordeiro Ferreira, o Mágico, o espancou e deu dois disparos perto do ouvido do rapaz para assusta-lo. “Queria muito voltar para a minha casa, mas agora não dá mais”, lamentou a doméstica, ao lado de outros dois filhos. Hoje, agentes da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Policiais (Draco/IE) vão à Rio das Pedras recolher os pertences dela.

Maria do Socorro passou a temer um atentado quando o policial militar Paulo Roberto Alvarenga — segurança particular de um dos chefes da milícia de Rio das Pedras, o sargento Dalmir Pereira Barbosa — se matriculou na mesma academia de ginástica que ela. Ano passado, o PM chegou a ligar para a viúva de Félix para conversar sobre o depoimento que prestaria à polícia, uma semana depois de sofrer atentado. Ano passado, o filho de Socorro foi agredido pelo miliciano Cristiano Cleik Hygino. Ela, que chegou a andar com escolta policial, agora deixará para trás empresa de gás e terrenos em Rio das Pedras.

Major Dilo declarou ganho de R$ 84 mil com apostas

Nenhum dos 11 foragidos da operação Rolling Stones se entregou. Um deles, o major Dilo Pereira Soares, impressionou investigadores quando, na declaração de renda de 2006, declarou ter ganho R$ 84.991,05 com corridas de cavalo. Ele, Queiroz e Dalmir poderão ser expulsos da PM após conclusão de inquérito que apura os crimes cometidos pelo trio. De todos os pedidos feitos pela Draco, a Justiça só não aceitou que os sete policiais fossem afastados de suas funções.

Na ação de quarta feira, foram presos Jorge Alberto Moreth, o Beto Bomba; Paulo Eduardo da Silva Azevedo, o Paulo Barraco; Paulo Roberto Alvarenga; André Elias Pereira, o André PM; Jorge Macedo; Wilson de Souza Guimarães, o Porquinho; Carlos Roberto Guedes; Otto Luiz Stefan; e Maurício da Silva Costa, o Maurição.

Cooperativa pagava contas de miliciano

Por enquanto, a busca feita na cooperativa de transporte alternativo de Rio das Pedras foi a que rendeu mais frutos. A Draco encontrou fortes indícios de que as contas telefônicas pessoais de Dalcemir Pereira Barbosa foram pagas com o dinheiro da entidade. A polícia também encontrou uma planilha informando que às segundas-feiras a entidade arrecada R$ 300 por motorista e às quintas-feiras R$ 110.

Outra prova que mostra a arrecadação da milícia foi uma apreensão feita pela 32ª DP (Taquara) em dezembro de 2008. Antônio Carlos de Morais, o Caveirinha — apontado como um dos responsáveis pela arrecadação das taxas de segurança do comércio —, foi detido na comunidade com R$ 2.215 e um cheque de R$ 50. Em depoimento na delegacia, ele preferiu se calar. Outra atividade usada pela milícia para faturar era o aluguel do campo de grama sintética ao lado da associação de moradores.

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