terça-feira, 5 de outubro de 2010

Brasil, Pais de viciados

AFANASIO LAZADJI



Terrível e vergonhosa constatação: o Brasil é o país que mais consome cocaína na América do Sul, embora não seja grande produtor mundial da droga. A denúncia faz parte do Relatório Global sobre Drogas 2009 da ONU (Organização das Nações Unidas).

Em números absolutos, o mercado brasileiro é o que mais consome cocaína no continente, com cerca de 890 mil usuários (o equivalente a 0,7% da população com idades entre 12 e 65 anos). Um avanço preocupante em relação a 2001, quando os usuários da droga representavam 0,4% da população.

Estruturado a partir de questionários preenchidos pelos governos, o levantamento das Nações Unidas foi lançado simultaneamente em várias cidades do mundo às vésperas do Dia Internacional do Tráfico e o Abuso de Drogas.

Com o aumento do consumo, cresceu também a quantidade de droga apreendida. Nos países do Cone Sul (Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile), as apreensões passaram de 10 toneladas no ano 2000 para 38 toneladas em 2007.

De acordo com o secretário nacional de Políticas sobre Drogas, Paulo Roberto Uchôa, “o Brasil não incomoda o mundo em termos de produção. Incomoda, sim, por ser um país de trânsito de drogas”. Em 2007 a América do Sul contribuiu com 45% do total mundial de apreensões da droga, o equivalente a 323 toneladas. Mais de 60% desse número veio da Colômbia.

No Brasil, foram apreendidas 17 toneladas de cocaína – o que coloca o país em 10º lugar no ranking mundial. O secretário Uchôa destacou que o país faz fronteira com os três maiores produtores mundiais de cocaína, mas evitou falar em falhas na vigilância.

De acordo com a Polícia Federal, o objetivo maior não é a apreensão de entorpecentes, mas sim a desarticulação das organizações criminosas que atuam nesse comércio ilícito. Para Uchôa, o Brasil está plenamente de acordo com os compromissos internacionais de combate ao tráfico.

Apesar do otimismo oficial, o país é um dos quatro com maior número de usuários de drogas injetáveis no mundo (ao lado de China, Estados Unidos e Rússia, soma 45% do total estimado de usuários no mundo). Essa prática, aliás, acaba por empurrar o Brasil para outro triste ranking: o de países com os mais altos índices de contaminação por HIV no planeta.

Segundo o relatório, no Brasil, 48% dos infectados pelo vírus da Aids são usuários de drogas injetáveis. Mais do que bem-vindas, políticas públicas voltadas a esses grupos seriam de suma importância.

Outro cenário sombrio se desenha em relação ao crack. As apreensões no Brasil cresceram quase quatro vezes de 2006 para 2007, passando de 145,3 toneladas para 578 toneladas. No período histórico do levantamento, que começa em 2002, o ano em que a apreensão de crack foi menor no país foi em 2004, com 101 toneladas apreendidas. Barata e poderosa, a droga tornou-se a preferida das classes menos favorecidas, tendo grande penetração entre jovens e crianças.

O apoio estatal aos adictos – quando existente – ainda é distante do ideal.

Mais do que uma compilação de números e tabelas, o diagnóstico traçado nas 314 páginas do relatório da ONU pode servir aos governos como importante fio condutor de políticas públicas no combate ao tráfico e na prevenção ao vício.

E, nada de pensar de forma criminosa, como lamentavelmente tem se manifestado a toda hora o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que insiste em advogar pela liberação do consumo e concomitantemente, pelo tráfico de drogas. Os narcotraficantes, pertencentes às mais variadas organizações criminosas, sentem-se encorajados, certos de que estão no caminho correto, com apoio incentivador de tal magnitude. Que triste fim de carreira, sociólogo FHC!

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